sábado, 10 de outubro de 2009

100 ANOS REPÚBLICA - FIGUEIRA DA FOZ

"... Uma plêiade notável de homens e mulheres foram os obreiros dessas fortes convicções liberais, republicanas e democráticas. Pessoas e colectividades, a imprensa local, grupos e cidadãos, com entusiasmo e desassombro, trabalharam em prol do bem comum e da emancipação do povo figueirense. O espírito e alma republicana, sob o lema liberdade, igualdade e fraternidade, fazem parte, exaltantemente, do álbum das memórias figueirenses. Por isso, esse ideário republicano tem de ser evocado. Deve ser reivindicado. Tem de ser honrado..."

in Blog 100 Anos da República - Figueira da Foz.

J.M.M.

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

(Re)visões de presenças e percursos de Joaquim de Carvalho" - Prémios do Concurso (III)



Menção Honrosa - BRUNO CORDEIRO (clicar na foto, acima)

Parabéns aos vencedores e o nosso obrigado a todos os participantes.

(Re)visões de presenças e percursos de Joaquim de Carvalho" - Prémios do Concurso (II)



2º Prémio: SOFIA FIDALGO (clicar na foto, acima)

[CONTINUA]
"(Re)visões de presenças e percursos de Joaquim de Carvalho" - Prémios do Concurso (I)

Na Homenagem ao Dr. Joaquim de Carvalho constava da sua Programação um Concurso e Exposição de Pintura sob a temática "(Re)visões de presenças e percursos de Joaquim de Carvalho", iniciativa da Associação Joaquim de Carvalho, conforme AQUI registámos.

No decorrer da II Tertúlia Dr. Joaquim de Carvalho - no Salão do Casino da Figueira da Foz - foram entregues pelos ilustres convidados os Prémios atribuídos pelo Júri.

Assim:



1º Prémio: NUNO OLIVEIRA (clicar na foto, acima)

[CONTINUA ]

O PROF. JOAQUIM DE CARVALHO DEIXOU EXPRESSO o desejo de que o seu corpo fosse envolto nas bandeiras de Portugal e do Brasil

"O prof. Joaquim de Carvalho, que esta noute faleceu em Coimbra, era uma figura admirável de intelectual e de mestre. Homem integro, de uma generosidade sem limites, o prof. Joaquim de Carvalho era o tipo perfeito de mestre universitário, criador de uma obra vasta e inteligente em que a síntese e a análise se completavam, simultaneamente ampla e profunda, marcada de personalidade e novidade. Formou gerações, impressionando fortemente a juventude, para a qual era mais do que um simples professor. Na cátedra de História da Filosofia, o prof. Joaquim de Carvalho tornou-se a maior autoridade portuguesa e mesmo uma alta figura do pensamento europeu, ensinando sem impor num plano superior de dignidade intelectual e tolerância ..."

in Diário de Lisboa, 28 de Outubro de 1958, p.6

domingo, 30 de novembro de 2008


COLÉGIO LICEU FIGUEIRENSE - GRUPO DE EX-ALUNOS

Grupo de antigos alunos à porta do Colégio Liceu em 1929 ou 1930 [clicar na foto].

Identificam-se os seguintes ex-alunos, sentados da esquerda para a direita e a começar na primeira fila e no 3° vulto, António Varela Pinto, 4°, José Pignateli, 5° (?), e depois Álvaro Dias, Dr. Mendes Pinheiro, de bigode e barba branca, ao centro, José Brandão Pereira de Melo, Rolão Preto, Antônio Souto, José Calado, Carlos Lino, e José Guarinho Ataíde.

Na segunda fila e pela mesma ordem, de pé, António Sotero e (João ou António) Zagalo; sentados, Raul Agostinho (?), o seguinte não identificado, depois Manuel Soares, Ricardo Gião, Aleu Saldanha, António Xavier Archer, o seguinte não identificado, depois Alberto Jacobety, David Rosado e os restantes na fila não identificados.

Na 3ª fila de pé e pela ordem seguida, começando pelo 4° vulto, Emesto Tomé, António Gambôa Peixoto, Miguel Soares, Carlos Martins Pereira, Aquiles Moreira, José Dias, Augusto Alegre e Alfredo Franqueira.

in artigo publicado na revista LITORAIS, nº 9, Novembro de 2008: "A escola nova que Joaquim de Carvalho frequentou: o Collegio Lyceu Figueirense (1902-11)", por Paulo Archer, p.30

REVISTA LITORAIS - Estudos Figueirenses

Litorais é uma publicação da Associação Doutor Joaquim de Carvalho, instituição particular de solidariedade social, com sede na Figueira da Foz. Visa divulgar estudos sobre a cultura figueirense nos seus mais diversos domínios, e até mesmo divulgar outros estudos, desde que da autoria de figueirenses e de relevante mérito e interesse científico ou cultural.

Pretende assim, ao propor-se como meio de divulgação cultural, constituir-se como factor de promoção de pesquisas, garantindo um espaço certo de publicação e assumir-se como veículo de ideias que ajudem à explicação e compreensão da realidade figueirense.

É uma publicação aberta à colaboração de todos, não descurando a seriedade dos conteúdos e a exigência de rigor científico.

Quando propus à direcção da Associação Doutor Joaquim de Carvalho a edição duma revista de estudos figueirenses, a proposta obteve, da sua parte, a mais viva aceitação.

A experiência que tenho do jornalismo local dizia-me que muitos figueirenses, tal como acontece noutros quadrantes, por amor à sua terra e movidos pelo gosto de conhecer, dedicam-se a investigar os mais variados temas e, com base nessa investigação, produzem estudos que, em muitos casos, nunca chegam a ver a luz do dia.
Num largo conjunto de concelhos deste país, muitas vezes por intervenção das autarquias, estudos destes acabam por ser editados, ou em formato livro, ou em revistas de publicação mais ou menos periódica. Na Figueira isto não acontece, salvo, em parte, o caso das edições dos "Cadernos Municipais", com carácter esporádico e, por questões de forma, fechados para a edição de pequenos estudos. De igual modo, pelo espaço que neles ocupam, estes trabalhos não encontram cabimento nas edições dos jornais locais, nem justificam a sua publicação parcelar.

Numa associação que tem por patrono o nome do grande estudioso e investigador que foi Joaquim de Carvalho, fazia sentido criar um espaço de edição que abrisse ao grande público dados relevantes sobre o conhecimento da sua terra, e que pudesse servir também de escaparate da cultura local junto dos de fora, os quais podem manifestar interesse em conhecê-la.

Da mesma forma, estamos em crer que a existência duma publicação desta índole, acentuada pelo seu carácter periódico, pode ser um incentivo à elaboração de trabalhos como aqueles que aqui divulgamos ...

António Tavares, in Litorais - Estudos Figueirenses, nº0, Maio de 2004

sexta-feira, 28 de novembro de 2008


II TERTÚLIA – JOAQUIM CARVALHO

Foto (clicar para aumentar): salão do Casino da Figueira da Foz, no passado dia 20 de Novembro: um grupo de estudantes da Escola Secundária C/3º CEB Dr. Joaquim de Carvalho, presentes na assistência.

LITORAIS. REVISTA DE ESTUDOS FIGUEIRENSES (PARTE II)

Para concluir a análise dos artigos publicados na revita Litorais, resta-nos o texto da autoria de Cândida Ferreira, O Tempo da Saudade, onde a autora nos apresenta um conjunto de ideias sobre o devir do tempo. Iniciando pela noção de tempo, o tempo do tempo, o tempo do não tempo, o tempo da duração e, por fim, o tempo da saudade.

Quanto ao conceito, a autora, começa por traçar o problema entre duas dimensões diversas, a filosófica e a científica. O tempo afirma-se, por um lado, como "uma convenção ou uma dimensão configuradora do real que, por razões pragmáticas o homem produziu para organizar a sua praxis e até a sua própria identidade" (p. 67). Por outro lado, "o tempo existe e nele se fixa a história de cada ser que nele existiu, existe e existirá" (p. 69). Porque, conclui-se, o tempo é evolução e esta opera transformações ao longo dos tempos do tempo.

Cândida Ferreira explica ainda, com base em alguns autores como R. Le Poidevin, R. Damatta, I. Prigogine, J. E. Mctaggart, César Ades, entre outros, as suas ideias acerca da noção da temporalidade nas suas várias interpretações para o ser humano. Porém termina dando especial atenção à problemática da saudade tão característica dos portugueses. Segundo esta autora, a saudade assenta em dois grandes vectores: lembrar e sentir. Assim, sustenta, "a saudade é um sentimento do presente (construído pela contemporaneidade pessoal) e que a lembrança evoca o que não é real, ou seja, evoca um real (re)criado pela dinâmica de uma memória que o produz enquanto o narra" (p. 76). Conclui, portanto, que "o momento da saudade é também um momento de correcção da trajectória do existir e mesmo quando idealiza o passado projecta o arquétipo da contemporaneidade antecipando já a dimensão futurante do presente" (p. 78-79).

Relativamente ao ultimo artigo, não vamos, como é óbvio, tecer qualquer comentário, pois ele foi inicialmente publicado aqui e aqui embora tenha sofrido ampliação e novos desenvolvimentos em aspectos pontuais, procurando simplesmente contribuir para relembrar alguns aspectos do envolvimento político do Doutor Joaquim de Carvalho.

Foto: caricatura (?) do Dr. Joaquim de Carvalho

A.A.B.M.

via ALMANAQUE REPUBLICANO

quinta-feira, 27 de novembro de 2008


LITORAIS. REVISTA DE ESTUDOS FIGUEIRENSES

A Associação Doutor Joaquim de Carvalho, da Figueira da Foz, lançou no passado dia 20 de Novembro, no decorrer da II Tertúlia Joaquim de Carvalho, o nº 9 da Litorais. Neste número do segundo semestre de 2008, podem encontrar-se os seguintes artigos:

- Paulo Archer de Carvalho, A escola nova que Joaquim de Carvalho frequentou o Collegio Lyceu Figueirense (1902-11); p. 7-30;

- Miguel Real, Joaquim de Carvalho (1892-1952) - Um liberal heterodoxo; p. 33-64;

- Cândida Ferreira, O Tempo da Saudade; p. 65-80;

- Artur Barracosa Mendonça e José Manuel Martins, Notas políticas sobre Joaquim de Carvalho; p. 81-88.

No primeiro artigo, Paulo Archer acompanha o movimento da Escola Nova e a influência que este movimento exerceu na Figueira da Foz através do Colégio Liceu Figueirense, instituição onde Joaquim de Carvalho fez a sua formação escolar. Constata-se que era "uma escola elitista e dispendiosa"(p. 11), que "atrai cada vez mais meninos ricos de longe" (p. 12), mas "com a República, o Collegio Lyceu Figueirense, entra em colapso"(p. 19). Entre 1911 e 1914, o Colégio Liceu vive em "itinerância", porque o seu director José Luís Mendes Pinheiro se vê compelido a mudar com frequência de local de residência, acabando por retornar à Figueira da Foz em 1914, porque entretanto se assiste ao eclodir da guerra na Europa central. O Colégio transforma-se por decisão da diocese de Coimbra, a partir de 1935, num seminário menor.

Paulo Archer conclui de forma lapidar "A formação filosófica de Carvalho e o desenvolvimento metódico duma obra pioneira não arrancaram na Figueira. Mas da escola nova terá nascido e se terá consolidado o amor pela liberdade a um dos poucos filósofos que por ela verdadeiramente se bateu na primeira metade do século XX". Um contributo significativo para se compreender melhor a formação de Joaquim de Carvalho e o papel que nele desempenhou a corrente educativa da Escola Nova.

Por seu lado, Miguel Real apresenta-nos um texto sobre o pensamento liberal de Joaquim de Carvalho. Considerando-o herdeiro dos movimentos racionalistas, Miguel Real, enquadra-o nas ambiguidades que um conjunto de autores da mesma época viveram, mas sempre numa linha comum de combate "contra o conservadorismo nacionalista e o espiritualismo filosófico, seja monárquico constitucional, seja integralista, seja católico tradicionalista" (p. 34). Teria sido a "alma burguesa" de Joaquim de Carvalho que o conduziu à retirada da vida pública "resguardando-se assim de borrascas, exílios e desempregos, sofridos por todos os seus amigos racionalistas" (p. 34). Reconhece também a dificuldade em sistematizar o pensamento de Joaquim de Carvalho, embora destaque, seguindo Pina Martins, a tendência para "os grandes vultos reformadores do espírito filosófico da época moderna, bem como a galeria de pensadores heterodoxos de origem portuguesa" (p. 41).

Segundo Miguel Real, Joaquim de Carvalho evoluiu do jacobinismo inicial para um liberalismo, republicanismo e agnosticismo crescentes. Analisando a sua intervenção política, considera que o filósofo reconheceu a "total contradição com a oligarquia dirigente do Estado - era inevitável o confronto, que só poderia acabar com o esmagamento do elo mais fraco" (p. 53) - ou seja o próprio Joaquim de Carvalho. Conclui lamentando o desprezo a que tem sido votada esta figura desde os anos oitenta, embora saliente o seu "racionalismo rigoroso e escrupuloso, herdeiro da escola racionalista cientificista" (p. 60) que fica como "exemplo de um dos maiores cidadãos portugueses do século XX" (p. 60).

[em continuação]

A.A.B.M.

via ALMANAQUE REPUBLICANO

II TERTÚLIA – JOAQUIM CARVALHO

No passado dia 20 de Novembro decorreu a II Tertúlia Dr. Joaquim de Carvalho, no Salão Nobre do Casino da Figueira da Foz e em homenagem ao insigne Mestre, sob o lema, "Joaquim de Carvalho: A organização da cultura e os conflitos culturais na sua época". Curiosamente o evento deu-se no Dia Mundial da Filosofia e, seguramente, não por mero acaso. Há auspícios tais que os deuses saudosos cumprem.

A numerosa assistência – em eventos culturais desta natureza – recordou Joaquim de Carvalho, o professor que se impunha normalmente pela sua sabedoria, o seu ar paternal e sedução discursiva [palavras, então, proferidas por Eduardo Lourenço]. O seu sentimento de liberdade autorizada, essa herança do liberalismo do século XIX da qual foi herdeiro, e a presença sólida de uma paixão intelectual pela cultura ["aprender a ler os textos", crença continua do professor Joaquim de Carvalho, ainda segundo Eduardo Lourenço] foram fraternamente testemunhados ao longo da radiosa intervenção do professor Eduardo Lourenço, antigo aluno de Joaquim de Carvalho. "Tive a sorte de ter esse Mestre", disse admiravelmente Eduardo Lourenço.

António Pedro Pita resgatou o reconhecimento de ser o dr. Joaquim de Carvalho o "fundador da história da cultura em Portugal, em bases sólidas". Paulo Archer, na sua intervenção, chamou a depor o professor Sílvio Lima (discípulo de Joaquim de Carvalho), em defesa do Mestre, via a célebre polémica que manteve com Sant'Anna Dionísio, na homenagem então proferida por este último a Joaquim de Carvalho, na Figueira da Foz.

Sob moderação de Carlos Magno, os demais ilustres tertuliantes, Anselmo Borges ["é bom que a filosofia venha à cidade" – disse], Carlos Leone, o dr. Reis Torgal [que lembrou o conflito (1919) da suspensão de professores da Faculdade de Direito de Coimbra (entre eles estava Oliveira Salazar), sob acusação de colaboração monárquica, registando que Joaquim de Carvalho vem em favor desses professores; referiu a extinção da Imprensa da Universidade, de que Joaquim de Carvalho era director; a participação de Joaquim de Carvalho no Movimento de Renovação Democrática (Porto); e por último leu um luminoso texto do próprio Joaquim de Carvalho, publicado no Diário Liberal de 8 de Novembro de 1933, intitulado, "Reflexão Outonal sobre a Universidade de todo o Ano"], José Augusto Bernardes [salienta os ensaios de Joaquim de Carvalho sobre poesia, citando os trabalhos em torno de Gil Vicente, Camões, Antero e Pascoaes], João Tiago Pedroso e António Nóvoa [que situa a componente de pedagogo de Joaquim de Carvalho, através dos seus trabalhos e fazendo um breve historial da Escola Nova, a partir de um texto-prefácio dedicado pelo Mestre a Ferrière], participaram generosamente na recordação do homenageado.

Na eloquente jornada de homenagem ao dr. Joaquim de Carvalho foi lançado, ainda, um número especial sobre Joaquim de Carvalho da revista Litorais, pertença da Associação Joaquim de Carvalho, bem como se deu a conhecer os trabalhos e prémios da Exposição de pintura "(Re)visões de presenças e percursos de Joaquim de Carvalho".

Por último, o público presente teve ensejo de assistir a um excelente e curioso vídeo - "(Re)visões de presenças e percursos de Joaquim de Carvalho" - sobre alguns dos locais e percursos habitados por Joaquim de Carvalho e a uma entrevista feita ao seu filho, o dr. João Montezuma de Carvalho, num brilhante trabalho feito por alunos da Escola Secundária C/3º CEB Dr. Joaquim de Carvalho, que na ocasião postaremos.

J.M.M.

quinta-feira, 20 de novembro de 2008


JOAQUIM DE CARVALHO 50 ANOS DEPOIS

II TERTÚLIAJoaquim de Carvalho: A organização da cultura e os conflitos culturais na sua época

Com Carlos Magno (moderador), Eduardo Lourenço, António Pedro Pita e Paulo Archer.

Presença de: Anselmo Borges, António Nóvoa, Carlos Leone, João Tiago Pedroso Lima, José Augusto Bernardes e Luís Reis Torgal.

- Lançamento de número especial sobre Joaquim de Carvalho da revista Litorais, da Associação Joaquim de Carvalho.

- Exposição de pintura "(Re)visões de presenças e percursos de Joaquim de Carvalho".

- Visionamento de VIDEO: "(Re)visões de presenças e percursos de Joaquim de Carvalho".

20 DE NOVEMBRO: 22 horas – Casino da Figueira da Foz

quarta-feira, 19 de novembro de 2008


JOAQUIM DE CARVALHO. O filósofo, o historiador e a ciência

"Joaquim de Carvalho foi um dos maiores historiadores da Cultura Portuguesa, Filósofo, Professor e Homem Bom."

Foi assim que Barahona Fernandes iniciou uma conferência proferida na Academia das Ciências de Lisboa, em 30 de Novembro de 1961, em memória de Joaquim de Carvalho. É também em sua memória que hoje dele falamos. Faz este mês cinquenta anos que Joaquim de Carvalho nos deixou, não sem antes nos legar uma obra notável que podemos, talvez, situar no âmbito da historiografia cultural.

"Julgo – e isso escrevi – que o que deve singularizar a nossa situação é da conexão do espírito científico com o filosófico, quebrando a tradicional distância que os separa, quando não recíproca exclusão."

Joaquim de Carvalho sintetiza, neste pequeno parágrafo de uma carta que escreveu também à Academia de Ciências de Lisboa (datada de 15 de Setembro de 1951) o seu projecto intelectual que escrupulosamente cumpriu: o da "integração filosófica do saber". Por outras palavras, porque este desígnio/atitude é a marca mais assinalada do seu labor, o de combater a especulação vazia qualquer visão unilateral ou dogmática. Com efeito, Joaquim de Carvalho foi um filósofo e historiador que cultivou um saber assente num conhecimento profundo da ciência, o que lhe permitiu imprimir às suas investigações uma base concreta, racional e reflexiva, num interpenetração de saberes não muito frequente.

Assim, a sua mundividência resulta sempre de uma investigação positiva à qual associa uma atitude problematizadora face ao seu objecto de estudo, ou seja, a cosmovisão que nos apresenta é a uma vez concretizante, analítico-sistemática e reflexiva. É a perspectiva de um homem teorético e não a de um erudito, apesar de o ter sido também. Os seus trabalhos são ainda a expressão de um amante das grandes ideias que sabe reconhecer a força que elas têm de impregnarem a vida e de a transformarem.

Os seus estudos sobre a Filosofia Portuguesa evidenciam de que modo Joaquim de Carvalho considerou como o "mais representativo" da nacionalidade, mais do que a "comunidade de interesses e sentimentos". Por outro lado, foi também seu objectivo contribuir para a explicitação do "material histórico" português numa demanda árdua do seu sentido lógicoexistencial, através da identificação das leis que corresponderiam às relações objectivas dos acontecimentos.

Enfim, Joaquim de Carvalho encarou a sua pesquisa filosófica como "uma escalada de dificuldades que a razão põe a si mesma" e como "expressão profunda da cultura humana, especialmente instável, e sempre em crise". E termino, citando novamente Barahona Fernandes:

"Joaquim de Carvalho foi, assim, um filósofo que se pode dizer - sadio e construtivo - logrando harmonizar a sua posição doutrinal com a própria personalidade – trabalhar sem parança, com optimismo e confiança no saber..."

A homenagem que cinquenta anos depois lhe prestamos por estas e muitas outras razões lhe é devida. É uma questão, também, de gratidão”

Cândida Ferreira, in revista Sinal, Outubro de 2008

I TERTÚLIA – JOAQUIM CARVALHO

Foto (cliclar para aumentar): salão do Casino da Figueira, no passado dia 30 de Outubro: a partir da esquerda, o professor Carlos Monteiro (Presidente do Conselho Executivo da Escola Secundária C/3º CEB Dr. Joaquim de Carvalho), o dr. Domingos Silva (Admim. do Casino Figueira) e a professora Marta Pena.

CARTA DE JOAQUIM DE CARVALHO A JOÃO DE BARROS

21-VI-931

Meu Exmo. e Prezado Amigo

Venho agradecer-lhe, com ânimo penhoradíssimo, a generosidade com que tratou o meu artigo de Hist.[ória] do Reg.[imen] Rep.[licano]. Foi escrito sob a ditadura, daí o encadeamento de factos e ideias num sentido beligerante, e uma ordenação diversa da que ditaria uma época de paz. Dissimulei a erudição, e afastei-me mesmo por vezes; em todo o caso, sem vaidade creio que trabalhei sobre o inédito, e cheguei a algumas conclusões que oxalá sejam directivas para investigações particulares. (...)

Chego a pensar que a queda da ditadura por uma revolução militar seria um crime nacional. Encadeava-nos, de novo, à farda, não havendo forças humanas que nos libertassem dessa coisa horrível que foi o pronunciamento militar - Sá da Bandeira, Saldanha, Machado Santos e os Liberatos Pintos, esteios da ditadura. A ditadura, levando este processo ao paroxismo, deve matá-lo com a sua queda e morte. Se não fossem as vítimas que pedem reparações e justiça, não deveria ser esta a nossa atitude? É admirável que este movimento de conjunção; mas confesso q[ue]me irritou ver tanto general e almirante na direcção suprema. É a reincidência no erro do século XIX e no erro da 1ª República que tivemos. Renovo os mais gratos e cordiais agradecimentos, e nunc et semper mande o seu amigo e ad.[mirador].

Joaquim de Carvalho

[excerptos de uma carta de Joaquim de Carvalho a João de Barros, publicado em Cartas Políticas a João de Barros, com pref. selecção e notas de Manuela de Azevedo, Col. Temas Portugueses, INCM, Lisboa, 1982 p. 398-399]

A.A.B.M. [via Almanaque Republicano]

segunda-feira, 17 de novembro de 2008


A PROPÓSITO DA HOMENAGEM A JOAQUIM DE CARVALHO - II PARTE

"Quando rebentou Abril de 74, havia na Figueira da Foz o «Mar Alto», onde eu colaborava assiduamente, mantendo uma página pedagógica. Nessa página, por essa altura, apontava para diversos pensadores, entre eles Joaquim de Carvalho. Aliás, já desde 58 que eu organizava a homenagem a Joaquim de Carvalho, no Colégio de Santa Catarina ... era Camões e Joaquim de Carvalho”, lembrava Pires de Azevedo.

"Em 76, na Biblioteca Municipal, fez-se, com o repto lançado por uma circular do Colégio, uma grande exposição à volta de Joaquim de Carvalho, em duas salas, no piso subterrâneo do Museu (hoje Sala Figueirense e Sala Infanto-Juvenil) expuseram-se umas centenas de livros", recordou. "Havia uma filha mais velha que tinha ‘secretariado’ o pai e que poderia ter sido a bibliotecária, e o catálogo, razoável, serviu de base à publicação da obra completa de Joaquim de Carvalho, comentada pelo Dr. Pina Martins, publicada pela Fundação Gulbenkian, em nove volumes”, explicou.

Seria na inauguração dessa exposição, por Maria Judite Pinto Mendes de Abreu, na altura, Presidente da Comissão Administrativa que presidia à autarquia, que o filho mais velho de Joaquim de Carvalho "declarou que a biblioteca do pai ficaria na Figueira da Foz".

Mas o futuro reservava outra realidade. "Em 78 defendi então o nome de Joaquim de Carvalho para o Liceu, com a reserva de que pudesse vir a ser dado a um instituto superior, porque na altura sonhávamos com um Centro de Estudos Humanísticos, e a biblioteca de Joaquim de Carvalho podia ser uma fonte para estudos de Direito e de Filosofia, e da Cultura portuguesa de um modo geral", recordava o Professor. "Pensávamos que isso suscitaria na Universidade de Coimbra interesse ao ponto de estender à Figueira da Foz um braço da Faculdade de Letras, um centro de estudos humanistas com o nome do Dr. Joaquim de Carvalho", lembrava Pires de Azevedo. Efectivamente, "a Universidade de Coimbra revelou o seu interesse junto da família, que por sua vez tinha elementos muito próximos da Universidade", prosseguiu Pires de Azevedo. Mas a negociação seria "mediada pela Fundação Gulbenkian, que era administrada, na altura, por Ferrer Correia, Professor de Direito da Universidade de Coimbra", explicou. O resultado foi que "acabou por decidir-se que a biblioteca de Joaquim de Carvalho iria para a Faculdade de Letras, fechada à chave. Julgo que ainda hoje não se catalogou (dizia na altura), volta e meia surge uma ou outra epístola em publicações supostamente culturais ou antropológicas", concluiu.

No centenário do nascimento de Joaquim de Carvalho, em 1989, ainda com Pires de Azevedo à frente da Escola que já ostentava o nome de Joaquim de Carvalho, nasce o jornal da escola, "Sinal". Para o Professor, o nome impunha-se como "um sinal da presença de uma escola viva, sob a égide de um grande mestre". Um ano e três meses após o falecimento de Pires de Azevedo, e 50 anos após a morte de Joaquim de Carvalho, o jornal escolar "Sinal" permanece como manifesto vivo do mesmo significado que o Professor lhe dava, sendo este mês integralmente dedicado à memória do seu patrono".

Andreia Gouveia, in O FIGUEIRENSE, 14 de Novembro de 2008, p. 21 [sublinhados, nossos]

A PROPÓSITO DA HOMENAGEM A JOAQUIM DE CARVALHO - I PARTE

Em Janeiro de 2007, sete meses antes de falecer, o Professor José Pires de Azevedo recebeu O Figueirense em sua casa, para uma longa entrevista: três tardes, passadas no seu escritório, não chegaram para as muitas lições, de História, mas sobretudo de Vida, que o Professor ainda tinha para dar.
Resumida a conversa a duas páginas de jornal, não houve como nelas verter todo o seu conteúdo. De fora ficaram, por exemplo, as considerações sobre Joaquim de Carvalho, o vulto que admirava ao ponto de ter sido por sua iniciativa que uma Escola Secundária da Figueira da Foz ostenta hoje o nome de Joaquim de Carvalho. Mas, porque as palavras do Professor eram obviamente valiosas, O Figueirense guardou o registo, para memória futura. É chegado o tempo de as revelar.


Em 1978 Pires de Azevedo estava à frente da Biblioteca do Liceu Nacional da Figueira da Foz, que pretendia "reunir as bibliotecas do ensino secundário do Centro Litoral, de Alcobaça a Vieira de Leiria, passando pela Figueira da Foz, Coimbra, Leiria até Peniche". Foi nessa altura que lutou pelo nome de Joaquim de Carvalho para a Escola. "A Escola só podia ter um nome: o de Joaquim de Carvalho", afirmou na última entrevista concedida a O Figueirense. "Foi esse o meu parecer, ou seja, o da Biblioteca", esclareceu, admitindo que "Luís Carriço e Carrington da Costa foram outras das opções, porque eram figuras universitárias, mas tratando-se de uma biblioteca teria de ser uma figura das Letras e do Pensamento", justificou.

Para Pires de Azevedo, "pondo de parte os políticos, só poderia ser o Dr. Joaquim de Carvalho, formado em Direito e em Letras, um especialista e historiador da Cultura Portuguesa". O Professor guardava bem na memória a polémica havida, na época, entre a família de Joaquim de Carvalho e a Universidade de Coimbra. "A família sentiu-se ofendida, e com razão, porque quando Joaquim de Carvalho adoeceu a Faculdade de Letras e a Universidade de Coimbra, onde Joaquim de Carvalho pontificava, não lhe guardaram o respeito devido", recordou. "E quando Joaquim de Carvalho morreu, não houve luto na Universidade", lamentou. As consequências fizeram-se sentir. "A família declarou guerra à Universidade", explicou Pires de Azevedo. "O filho mais velho de Joaquim de Carvalho, Manuel Montezuma Carvalho, era uma pessoa financeiramente poderosa e, com os irmãos, decidiram que os livros que eram do pai ficariam na Figueira, na casa em que ele vivera nos últimos tempos, com a ideia de a transformarem numa casa-museu”, recordou. "Ao mesmo tempo, as publicações Europa-América começaram a publicar um boletim de homenagem a Joaquim de Carvalho, num total de nove números, tudo a expensas da família", prosseguiu, sublinhando que Joaquim de Carvalho, "como administrador que foi da Imprensa da Universidade de Coimbra, entre 1923/4 e 1933, tinha direito a exemplares de todas as publicações que ali se faziam", possuindo assim uma impressionante biblioteca, até porque, na época, "a Imprensa da Universidade de Coimbra era a editora mais importante do país, fazendo sombra à Imprensa Nacional".

Pires de Azevedo recordava bem alguns dos títulos que por lá passaram. "As publicações da Academia de Ciências, por exemplo, faziam-se lá", mas "quando a Imprensa foi fechada compulsivamente, Joaquim de Carvalho perdeu muitos desses exemplares, mas mesmo assim tinha uns milhares de livros", afirmou. E conhecia-os bem. "Eu visitei aquela biblioteca e era uma preciosidade cultural, uma fonte de primeira ordem, que era preciso preservar e defender", considerava, até porque "o Século XIX, que ele estudou a propósito de Antero de Quental, e o pensamento medieval, origem do pensamento português que defendia, estavam representados na sua biblioteca". Mas havia uma ainda maior riqueza naquela biblioteca. "De Júlio Dantas aos anti-Dantas Almada Negreiros e Aquilino Ribeiro, todos ofereciam livros a Joaquim de Carvalho… eram escritores, colegas, estudantes. Ele tinha obras assinadas pelos autores, e primeiras edições de obras de Gaspar Simões, João de Barros, Torga e Ferreira de Castro, entre muitos outros", elencou. "E a correspondência? Era a riqueza maior daquela biblioteca. Joaquim de Carvalho não deitava fora papel nenhum que se lhe escrevesse”, garantia Pires de Azevedo. "Como não tinha tempo, nos sobrescritos que lhe apareciam, normalmente A3 e A4, enfiava toda a correspondência que recebia, e as suas respostas. Luís Carriço, Carrington da Costa, João de Barros, Afonso Duarte e também os Mestres de Lisboa, Hernâni Cidade, Rodrigues Lapa, e outras pessoas gradas da cultura portuguesa, como António Sérgio e Fidelino de Figueiredo, o primeiro a semear bibliotecas por todos os países por onde andou", recordava o Professor olhando para a sua caneta. "Com esta apontei mais de cem cartas e bilhetes postais", divagou. "Entre todas as cartas que vi haveria milhares de apontamentos, da política à cultura, alguns profundamente polémicos, outros nem por isso, mas todos muito profundos, que mereciam ser estudados", acreditava"

[continua]

Andreia Gouveia, in O FIGUEIRENSE, 14 de Novembro de 2008, p. 21 [sublinhados, nossos]

Ao Dr. Joaquim de Carvalho

"Trazia um sobretudo preto,
Um livro e a pasta de entre o braço,
- Morria a tarde branca e fria
Num céu polido como o aço ….

Pálido, o rosto, se fechava
Numa expressão grave de asceta
E em seu olhar de miopia
Ardia a alma dum poeta

No mundo, certo, só Coimbra
Cenário para emoldurar
O mestre tão de vida austera
Que só vivia de pensar

....
"

Fausto José, in Encontro

Nota: sobre o poeta Fausto José, ler AQUI e AQUI.

quinta-feira, 6 de novembro de 2008


JOAQUIM DE CARVALHO no SEMPRE FIXE

Capa do jornal "Sempre Fixe" do dia 14 de Abril 1932 sobre o Dr. Joaquim de Carvalho.

Legenda:"A forte têmpera dos homens de 1820 numa franzina figura de hoje. Excede, em muito, o máximo da craveira moral e mental dos nossos dias. Com mais meia dúzia de semelhante valor, o mundo seria impecavelmente perfeito".

Nota: na caricatura de Joaquim de Carvalho, repare-se na presença do barrete frígio (símbolo republicano, via revolução francesa) a "evoluir" de um "archote" (?) que sai do chapéu que tem na mão; a alusão maçónica, simbolicamente presente na aura e chama que se eleva sobre a sua cabeça; o símbolo da Universidade e o mocho como símbolo da sabedoria. Refira-se que foi por esta altura que Joaquim de Carvalho participa na monumental e estimada obra publicada por Luís de Montalvor (pseud.) "História do Regime Republicano em Portugal" - Lisboa, Empresa Editorial Ática, 1930-1932, II vol. -, justamente no seu primeiro volume, com um ensaio notável intitulado "A Formação do Regime Republicano em Portugal 1820-1880" [J.M.M.]

foto via Exposição Bibliográfica e Documental da B.M.F.F.

A SAUDADE

"A Saudade é analisada, por Joaquim de Carvalho, pelo método fenomenológico (corrente filosófica que pretende descobrir as estruturas transcendentes da consciência e as essências) porque é preciso examinar a essência da saudade, o que está para além da exteriorização da mesma. O autor não procura o que é ser saudoso porque remete para o presente (que pode ser infinito), analisa, antes, o que o sentimento da saudade tem em cada um de nós (porque cada um tem saudade das suas próprias experiências) ...

Joaquim de Carvalho, filósofo coimbrão, escreveu esta obra com o intuito de fazer a descrição fenomenológica da consciência saudosa, a especificidade e o conteúdo da saudade. Enquanto sentimento universal a saudade pode assumir diferentes formas (tristeza, nostalgia, melancolia ...)" [notas sobre a saudade, via apontamentos do Grupo de Filosofia da ESJCFF]

"A saudade dá-se em e é sempre saudade de algo, isto é, o acontecer da saudade é um acontecer que a consciência íntima pode comunicar mas não transferir para outrem, e cuja vivência se acompanha da presença espiritual de seres ausentes ou de circunstância e estados transactos (...)

Este sentimento presente à consciência é um sentimento evocativo, triste melancólico, sentido subjectivamente e não é passível de se manifestar por actos físicos nem transferido para outra consciência, apenas comunicado".

Joaquim de Carvalho, in Elementos Constitutivos da Consciência Saudosa

FOTO: casa da Figueira da Foz, na Rua do Pinhal, onde viveu Joaquim de Carvalho.

I TERTÚLIA – JOAQUIM CARVALHO

Foto (cliclar para aumentar): salão do Casino da Figueira, vendo-se o dr. Domingos Silva - o nosso anfitrião – abrindo a I Tertúlia Joaquim de Carvalho, e que se realizou no passado dia 30 de Outubro; do nosso lado direito, sentado, o convidado dr. Miguel Real; no lado esquerda da foto, está presente o excelente moderador da jornada, Carlos Pinto Coelho.

quarta-feira, 5 de novembro de 2008


FUNERAL do DOUTOR JOAQUIM DE CARVALHO

"Em Coimbra, o funeral do sr. Prof. Dr. Joaquim de Carvalho constituiu uma grandiosa e expressiva manifestação de pesar (...)

Eram precisamente 11 horas quando a urna, contendo os restos mortais do saudoso professor dr. Joaquim de Carvalho, foi transportada para o carro fúnebre. Ia coberta com as bandeiras nacionais de Portugal e do Brasil e conduziram-na aos ombros os filhos e genros do ilustre extinto.

Milhares de pessoas de todas as categorias sociais tomaram parte no funeral ou assistiram à saída da urna, prestando assim homenagem sentida a uma das figuras mais representativas da Universidade de Coimbra e do País ...

Acompanhou a urna até ao cemitério da Figueira da Foz uma extensa fila de automovéis. A chave da urna foi entregue ao amigo íntimo do finado e seu condiscípulo, sr. dr. Alexandre Seixas (...)"

[inO Primeiro de Janeiro, 30-10-1958]

Alguns nomes presentes na homenagem [idem, ibidem - na sua quase totalidade membros da Universidade de Coimbra: Maximino Correia, António Pimentel de Sousa, Providência e Costa, Sousa Inês, Alexandre Rebelo da Silva, José Maria da Gama, João Pereira Dias, José Bacalhau, Luís de Almeida, Mário Trincão, Costa Pimpão, Amorim Girão, Paiva Boléo, Feliciano Guimarães, Manuel dos Reis, Custódio de Morais, César Alves, Salvador Rodrigues, Abílio Amado, Maia Alcoforado, José Cleto, Fernando Kopes, José Ernesto Rodrigues, Antunes Varela, António Ferrer Correia, Luís Cabral Moncada, Joaquim Antunes de Azevedo, Bento da Silva Marques, Augusto Lopes, Afonso Pinto Ferreira, António Augusto dos Santos, Mário Santos, Guilherme Braga da Cruz, Maria da Rocha Pereira, Alfredo Fernandes Martins, Francisco Assis Faria, António Lourenço Faria, António Bento paiva, António Rodrigues Pires ... membros da Associação Académica, tipógrafos da extinta Imprensa da Universidade (actualmente a trabalhar na Imprensa Nacional de Lisboa) ...

As Representações [fizeram-se representar por ...]: Pereira Dias (Mendes Correia e a Sociedade de Geografia); Cabral Moncada (Instituto de Alta Cultura); dr. Fernando Lopes (Mário de Azevedo Gomes e Francisco Cruz); desembargador Morais Cabral (dr. António Luís Gomes); dr. Rodrigo de Abreu (general Humberto Delgado); dr. Paulo Quintela (António Sérgio, Aquilino Ribeiro e Jaime Cortesão); Dra. Maria da Rocha Pereira (prof. Rocha Pereira, do Porto, e o centro de Estudos Humanísticos).

vide O PRIMEIRO DE JANEIRO, 30-10-1958

LIVROS de D. MANUEL II

"São de sempre, na nossa gente, os testemunhos do amor do livro e da consideração por quem os escreve, os aprecia, os ajunta e conserva. Espontâneos ou reflectidos, de ignorantes ou de letrados, eles denotam a disposição moral para se atribuir à civilização um sentido de hierarquia espiritual e dão a conhecer uma faceta da nossa compleição, que através das mutações políticas, da transformação das condições de existência e das inovações dos recursos técnicos jamais deixou de prezar o trabalho intelectual como a aplicação mais alta da actividade humana, mormente se desinteressado e de honradas intenções.

Sendo de sempre, e portanto constantes, nem por isso os testemunhos do amor do livro têm sido unilineares e por igual provenientes de todas as camadas e maneiras de ser que compõem a sociedade portuguesa, pois a amplitude crescente das suas manifestações está em correlação directa com a generalização do acesso ao prazer da leitura (...)

Para quem viveu com plenitude a hora alta de alegrias e as depressões fundas da desilusão e da amargura, o mundo que os livros despertam, como aliás todo o fluir vivencial da existência, está sulcado de coordenadas intelectuais e afectivas, de preferências e de repulsas, de travos e de doçuras. Dia virá, em que, com o socorro de documentos e de testemunhos, o historiador e o analista possam sondar com equânime objectividade o mundo interior de D. Manuel. Hoje, talvez ainda seja cedo, e além disto faltam os documentos contrastantes, que são condição essencial e apelo exigente da equanimidade da consciência e da imparcialidade do juízo.

Temos apenas diante de nós o pouco que deliberada e meditadamente deu ao prelo, nos Livros Antigos, mas esse pouco diz muito do mundo subjectivo do rei êxule, não tanto no que proclama como sobretudo, e principalmente, no que cala. Da sua pena não saíu uma palavra de ressentimento mesquinho, de ódio vingativo, de incitação pugnaz, e tudo o que neste livro escreveu, seja qual for a densidade da exactidão ou a consistência da travação lógica, teve em vista um fim supremo: Portugal (...)"

Joaquim de Carvalho, in LIVROS de D. MANUEL II. Manuscritos, incunábulos, edições quinhentistas, camoniana e estudos de consulta bibliográfica, seleccionados e apresentados por ..., Atlântida, Coimbra, 1950

Exposição Bibliográfica e Documental - B.M.F.F.

FOTO: a partir da direita, a dra. Isabel Henriques , a professora Odete Albergaria e a professora Marta Pena, na inauguração da Exposição Bibliográfica e Documental sobre o Doutor Joaquim de Carvalho (4 de Novembro de 2008) na Biblioteca Municipal da Figueira da Foz.

JOAQUIM CARVALHO na B.M.F.F.

A Biblioteca Municipal da Figueira da Foz e o Arquivo Histórico, "homenageia e recorda" a vida e obra de Joaquim de Carvalho – "insigne figueirense, humanista e liberal, sem dúvida dos mais destacados mestres e intelectuais da cultura portuguesa do seu tempo”" - no cinquentenário da sua morte, através de uma exposição bibliográfica e documental - mostra de livros, recortes de jornais, fotos e epistolário diverso.

Exposição Bibliográfica e DocumentalNovembro/Dezembro 2008, na Biblioteca Municipal Pedro Fernandes Tomás, Figueira da Foz

terça-feira, 4 de novembro de 2008


TERTÚLIA DEBATEU JOAQUIM DE CARVALHO

"Joaquim de Carvalho, autor de uma obra vasta nas áreas da Filosofia e História da Filosofia (...) nasceu nos dia da pátria, pronome sobre o qual dissertou nas suas obras. Democrata liberal. Assim foi definido na tertúlia que a associação com o seu nome realizou na noite de quinta-feira, no Casino da Figueira.

Foi ainda dito, para sintetizar, que o único objectivo de Joaquim de Carvalho foi Portugal. A ditadura de Oliveira Salazar não gostava da liberdade de pensamento e expressão do historiador figueirense, que acabaria por sentir na pele as consequências das suas convicções democráticas. Fernando Catroga e Miguel Real forma moderados pelo jornalista Carlos Pinto Coelho, mas na assistência encontravam-se nomes sonantes da sociedade portuguesa, entre os quais Pacheco Pereira, António Marinho Pinto e Pedro Pita.

O filho de Joaquim de Carvalho [na foto], João Montezuma de Carvalho, também de encontrava entre os tertulianos que praticamente encheram o Salão Caffé. No fim da tertúlia, ao Diário das Beiras, o descendente do filosofo português disse que concordou com "quase tudo" o que fora dito acerca do pai.

A Associação Joaquim de Carvalho, com sede na escola com o nome do historiador, realiza um conjunto de iniciativas ao abrigo do 50º aniversário da morte do patrono ...”" [ler tudo AQUI]

via Casino da Figueira e Diário das Beiras

domingo, 2 de novembro de 2008


I TERTÚLIA – JOAQUIM CARVALHO

Foto (cliclar para aumentar): ilustres assistentes e tertuliantes presentes na já referida I Tertúlia Joaquim de Carvalho, que decorreu no passado dia 30 de Outubro. Nota-se, sentado do lado esquerdo, o dr. António Marinho Pinto; à sua frente o professor Fernando Trindade, membro da Associação de Professores de Filosofia; ao seu lado outros docentes de Filosofia. Em pé, no lado direito da mesa, está o dr. António Pedro Pita e atrás de si, o dr. Paulo Archer. Ao fundo, à direita, um grupo de professores da Escola Joaquim de Carvalho.

BIBLIOTECA DE D. MANUEL II - por JOAQUIM DE CARVALHO

"Nunca esquecerei as horas breves de regalo que passei em Vila Viçosa no folhear de alguns livros do Rei D. Manuel II. Conto-as entre as mais agradáveis no já aturado trato que a Boa-Fortuna me permite manter desde a adolescência com livros de vária casta, índole e feitio.

O livro, é, porventura, um dos maiores tóxicos do civilizado, envenenando-o e, sobretudo, afastando-o de si próprio e do convívio com as coisas simples da Natureza, fora das quais a simplicidade não raro faz figura de impostora. Não há dúvida, pelo menos para mim, que começo a dar-me conta da inutilidade da maior parte deles, bem entendido depois de os ter visto e percorrido, quanto mais não seja em diagonal; mas descobrem às vezes coisas agradáveis, e os de Vila Viçosa, os do Rei D. Manuel II, claro está, revelaram-me duas coisas que raras vezes se oferecem juntas. Descobri em primeiro lugar um Homem que viveu intimamente, em perfeita lealdade consigo mesmo, o juramento que prestara ao País de o servir como Monarca Constitucional e na melancolia do exílio, em vez de deixar mirrar a alma na estreiteza corrosiva do ressentimento e da desforra, procurou alegrá-la na convivência dos livros, os «amigos silenciosos, como ele próprio disse, junto dos quais se aprende a grande lição da vida». E descobri, em segundo lugar, ou mais própriamente, conheci de visu, os livros de um bibliófilo da mais pura e devotada afeição (...)

Cada livro que o bibliófilo arruma na estante, no lugar próprio da colecção, tem sempre uma «história», às vezes movimentada e divertida como as partidas de caça, outras vezes repousada e soporífera como o chamado desporto da pesca à cana, que eu imagino ser o símbolo da união da paciência negligente ao proveito sem esforço. A conversação íntima para que eles convidam também nada tem de comum com a nomeada dos livros que andam na mão de toda a gente. Suscitam outros pensamentos e falas, e isto, com ser muito é quase nada perante a variedade das emoções, da alacridade do entusiasmo ao travo da renúncia e dos sacrifícios, que fazem de muitos deles pedaços de alma e projecção espiritual de quem os reuniu. Sejam de reis, de milionários, ou de remediados que tudo sacrifiquem ao prazer, às vezes maníaco e não raro repreensível, da posse ciumenta, ali à mão, do livro raro, do informe desconhecido, da prova decisiva que os outros buscam e ignoram, os livros dos bibliófilos nunca são os livros de toda a gente e sempre têm que contar. São sempre os livros de alguém, e como os indivíduos de gente limpa deve saber-se de onde vêm, e possuem uma genealogia, constituída pela raridade, pela sumptuosidade das enca dernações ou ainda pelo pertence dos sucessivos possuidores. Oh! A deliciosa responsabilidade de afagar livros raros oferecidos por grandes nomes, com o encargo moral de os transmitir por morte a quem seja digno de os apreciar e conservar! (...)" [ler mais AQUI]

Dr. Joaquim de Carvalho, in prólogo a MONUMENTOS DE CULTURA E DA ARTE TIPOGRÁFICA PORTUGUESA DO SÉCULO XVI EXISTENTES NA BIBLIOTECA DE D. MANUEL II, Lisboa, 1948

via Bibliomanias - Biblioteca de D. Manuel II

sábado, 1 de novembro de 2008


I TERTÚLIA – JOAQUIM CARVALHO e a IDEIA DE PÁTRIA

No passado dia 30 de Outubro realizou-se no Casino da Figueira da Foz a I Tertúlia que consta do Programa de evocação ao Doutor Joaquim de Carvalho, conforme aqui referimos.

Como que indo ao encontro da natureza antropológica da Escola, bem presente em Joaquim Carvalho quando refere que "o acto educativo é um facto de ordem social e cultural" [J.C., Obras Completas, Vol. VI], inserindo a Escola na comunidade e nos ideais educativos e de que aliás a Escola nunca se afastou (passe este momento "absurdo da espuma dos dias" em que vivemos), a Comissão Organizadora cumpriu o preito de gratidão à memória do seu Patrono - um dos mais ilustres figueirense de sempre - e cujo vulto intelectual, moral e cívico é um resguardo ou viagem de regresso à nossa "memória translúcida", espécie de consciência saudosa que ensaia a nossa condição de pessoa.

A acolhedora assistência (que foi um sucesso) no Salão Nobre do Casino – graças aos altos préstimos e patrocínio do dr. Domingo Silva – neste tributo de admiração a Joaquim de Carvalho acompanhou a viva, excelente e qualificada tertúlia que se seguiu a partir das intervenções do dr. Fernando Catroga e do dr. Miguel Real sobre "Joaquim de Carvalho e a ideia de Pátria", sob atenta moderação de Carlos Pinto Coelho. As palavras dos tertuliantes convidados – Marinho Pinto, José Pacheco Pereira, Carlos André, Paulo Archer, José Júlio Lopes, António Pedro Pita, António Pedro Mesquita e Alexandre Franco de Sá – pelo que foi dito ao longo da sessão, revelaram que a figura, a obra e o pensamento de Joaquim de Carvalho não é esforço e mobilização de um raro "escavador das coisas do passado" nem é distintivo de uma especial curiosidade e admirável afeição pela filosofia e letras (a que sabiamente se dedicava) mas sim que Joaquim de Carvalho foi, de facto, "o criador da história das ideias literárias, filosóficas e científicas da era moderna", como António Pedro Pita nos soube bem dizer.

No dia 20 de Novembro uma nova tertúlia regressa aos Salões do Casino da Figueira, agora sob o lema: "Joaquim de Carvalho: a organização da cultura e os conflitos culturais na sua época". O convite está feito.

J.M.M.

quinta-feira, 30 de outubro de 2008


JOAQUIM DE CARVALHO 20 ANOS DEPOIS - FIGUEIRA DA FOZ

I TERTÚLIAJoaquim de Carvalho e a ideia de Pátria

Com Carlos Pinto Coelho (moderador), Fernando Catroga e Miguel Real.

Presença de: Alexandre Franco de Sá, António Pedro Pita, Carlos André, Fernando Rosas, José Júlio Lopes, Pacheco Pereira, Paulo Archer, Reis Torgal.

30 DE OUTUBRO: 22 horas – Casino da Figueira da Foz

REVISTA SINAL

Saiu a Revista da Escola Secundária C/3ºCEB Dr. Joaquim de Carvalho, SINAL, totalmente dedicada ao Doutor Joaquim de Carvalho.

Com colaboração de Heloísa Cordeiro, Cândida Ferreira, José Azevedo, Elisa Matos, Carlos Santos, Carlos Monteiro e Odete Pereira; na redacção Marta Pena, Anatilde Gomes, Dália Rocha e a participação de um precioso grupo de alunos, a revista SINAL está de parabéns.

Foto: capa da SINAL, em distribuição

NOTAS POLÍTICAS SOBRE JOAQUIM DE CARVALHO – Parte II

Joaquim de Carvalho era, pois, um republicano liberal que pelo seu carácter e inteligência, talvez mesmo na sua benévola "solidão dos intelectuais" [João Gaspar Simões, Joaquim de Carvalho, JN, 8/3/1959], pode dizer-nos com toda a sagacidade [A Minha Resposta, ibidem, p.16]: "Se há estrutura mental que a República deva destruir é a da purificação. Para purificar o espírito, queimavam-se corpos; impediam-se leituras; fiscalizava-se o pensamento. O resultado viu-se e, tão baixo, vê-se ainda". Não espanta, deste modo, que considere no ideário republicano o trabalho espiritual, de combate ao fanatismo e à intolerância. A educação popular leva-o, com o maior dos entusiasmos, ao movimento das Universidades Livres (1919), tendo feito parte da Comissão Organizadora de Coimbra.

Na política associativa, Joaquim de Carvalho manteve um estreito relacionamento com Álvaro de Castro, sendo um dos apoiantes do Partido Republicano da Reconstituição Nacional, vulgarmente designado por Partido Reconstituinte, no início da década de vinte [Aires Antunes Diniz, O Século XX Português – Da Monarquia à República - texto inédito].

Antes, em 1912, com cerca de vinte anos, foi iniciado na Maçonaria, com o nome simbólico de Guyau, na loja "A Revolta" de Coimbra, onde se manteve até 1924 [Fernando Catroga e Aurélio Veloso, "António Sérgio no Exílio – Cartas a Joaquim de Carvalho", Revista de História das Ideias, vol. V, Coimbra, 1983, p. 952; vide ainda "Memoria Professorum Universitatis Conimbrigensis", vol.II, Coimbra, Arquivo da Universidade de Coimbra, 1992, p. 70]

Mais tarde, durante a Ditadura Militar, envolve-se em algumas tentativas de recuperação do regime republicano desaparecido em 28 de Maio de 1926, factos que lhe provocarão dissabores de todo o tipo, como o encerramento da Imprensa da Universidade em 1935. Entre essas actividades conhecem-se as suas participações na Aliança Republicano-Socialista, em 1931, em Coimbra [Fernando Catroga e Aurélio Veloso, ibidem, p.1013] e no Grupo de Estudos Democráticos (G.E.D.) dinamizado por Marques Guedes em 1931.

Ainda se encontra em Norberto Cunha [op.cit., p.584, nota 29] a referência à participação de Joaquim de Carvalho no Grupo de Renovação Democrática onde "alinhou abertamente pelo Grupo de Renovação Democrática, de pendor socialista".

Para além da sua obra académica (de muita eloquência), pedagógica [vide a este propósito, "Dicionário de Educadores Portugueses", dir. António Nóvoa, ASA, 2003, p.294-296] e filosófica, o "desassombro" de Joaquim de Carvalho de publicar e dirigir o Diário Liberal [Lisboa, entre Maio e Setembro de 1933], enfileirando-se na corrente de luta contra a ditadura, pelo conjunto de artigos de carácter doutrinário sobre questões políticas e sociais [leia-se, p.ex. "Sobre a ideia de Estado Total – Noção de Partido Político" ou "Sobre a ideia de Estado Total – Digressão sobre a alma burguesa"], mostra o seu "activismo doutrinal", o seu envolvimento político-social, mas que gradualmente conduzem a um crescente isolamento. E não por acaso, escreve ele em carta datada de 1932, a Rodrigues Lapa [Correspondência de Rodrigues Lapa, Coimbra, Minerva, 1997, p. 35] o seguinte: "Sei que estou e estarei isolado: não importa, porque saberei reivindicar o que me parece justo".

Para concluirmos, podemos dizer com Orlando Ribeiro ["Joaquim de Carvalho: personalidade e pensamento", Biblos. Revista da Faculdade de Letras. Homenagem a Joaquim de Carvalho, vol. LVI, 1980, p.1] e sobre Joaquim de Carvalho:

"Este homem era tão profundamente coimbrão que nem as sereias políticas da República liberal, de que era partidário convicto, nem as perseguições do obscurantismo, a que se opunha o seu espírito esclarecido e tolerante, o afastaram da Figueira da Foz nem da Universidade que de certo modo encarnava no que sempre teve de melhor: um lugar de ressonância europeia onde, da mediocridade e da suficiência em que tantas vezes se apagou, sobressaíam alguns espíritos de dimensão ecuménica na original fisionomia portuguesa que foi, na grande época da nossa história, a de integrar no mundo da cultura uma experiência – e uma reflexão sobre ela – de cariz próprio profundamente vincado"

A.A.B.M.
J.M.M.

via Almanaque Republicano

NOTAS POLÍTICAS SOBRE JOAQUIM DE CARVALHO – Parte I

"Ser republicano em Portugal é postular não apenas uma concepção política, mas sobretudo uma atitude mental e moral". Foram estas palavras então proferidas por Joaquim de Carvalho (1892-1958), em Janeiro de 1923, no discurso de homenagem ao Dr. José Falcão realizado em Coimbra e publicado pelo jornal A Revolta [nº7, 24-02-1923, p. 5-6]. Esta concepção e ética republicana que ultrapassa a própria política e entra no domínio da mentalidade colectiva de um povo era algo que os ideólogos do regime republicano preconizavam, mas que a realidade e o contexto da época acabaram por limitar, conduzindo muitos à desilusão e ao afastamento da vida política.

Joaquim de Carvalho sublinhava, acima de tudo, "a liberdade de espírito", "o dever", "o sentimento das ideias gerais" e o "espírito crítico" [Norberto Cunha, "Tradição e progresso nas liças teórico-políticas de um clerc: Vitorino Nemésio", Nemésio Vinte Anos Depois, Edições Cosmos, 1998]. E soube manter até ao fim esse seu espírito idealista, esse "desassombro", essa reconciliação da "gente com a humanidade", ou não fosse Joaquim de Carvalho o "Mestre de cidadania liberal ... uma espécie de frade da ordem do Espírito, que tinha por cela o Universo, mas um frade na acepção recolhida, pura e ascética da palavra" [Jaime Cortesão, citado por Barahona Fernandes, Joaquim de Carvalho. Pessoa e Atitude Espiritual, Figueira da Foz, 1963, p.13].

Nasce politicamente Joaquim de Carvalho, na época estudante universitário, num artigo publicado anonimamente, "ESTOTE PARATI?", no jornal A Redenção [Figueira da Foz, 1-2-1910]. O seu sentimento político, passe o facto de ser um texto de juventude, manifesta já as preocupações e os ideais que o vão acompanhar ao longo da vida. Revela-se, portanto, alguma constância do pensamento e sobretudo um conjunto de axiomas que servirão para desenvolver as suas ideias sobre o problema político em Portugal, e que vai desenvolvendo posteriormente, construindo, problematizando e alicerçando o que será tido como num pensamento liberal e democrático, com "um patriotismo fortemente impregnado de [...] sentimentos familiares" [Jorge Peixoto, Joaquim de Carvalho 1916-1934, Arquivo de Historia e Bibliografia 1923-26, INCM, 1976, vol. I].

Curiosamente, o primeiro combate de resistência surge em 1919, e logo vindo de um "sector político e intelectual que o devia compreender e até estar em perfeita sintonia" [Jorge Peixoto, ibidem], na sequência da desanexação da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, medida tomada pelo então Ministro da Instrução, Leonardo Coimbra, ao que se presume instigado pelo reitor Coelho de Carvalho. Na altura publica um expressivo e raro opúsculo onde afirma:

"Decorreu-me a escolaridade entre duas tendências: uma, impulsiva, que me arrastou ao mais ardente jacobismo, outra contemplativa, pela qual me isolava no meu quarto, trabalhando delirantemente. Venceu, afinal, esta última, não sei se por mais forte, se pelas laboriosas desilusões da realidade, embora aquela se não apagasse ainda ..." [Joaquim de Carvalho, A Minha Resposta, Coimbra, Tip. França Amado, 1919, p. 5].

[a continuar]

A.A.B.M.
J.M.M.

via Almanaque Republicano