quarta-feira, 29 de outubro de 2008
EPITÁFIO de JOAQUIM DE CARVALHO
Repousam aqui os despojos mortais do Doutor Joaquim de Carvalho. Mas, não, a sua verdadeira presença.
Presença eterna do homem de raras e grandes qualidades, do cidadão exemplar, do sábio escritor, professor, historiador e filósofo, cuja obra é glória da sua terra natal e da humanidade pensante.
Honremo-la sempre na saudade do nosso coração, e veneremo-la sempre na admiração do nosso espírito.
in Epitáfio de Joaquim de Carvalho, redigido por João de Barros
[foto via Figueira Olhar]
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Ao Prof. Dr. Joaquim de Carvalho ...
"Quando nos referimos ao "nosso" professor não falamos de um mero professor mas sim, de um expoente máximo da Cultura Portuguesa não só pelo seu legado (publicando 40 volumes e diversos ensaios), mas também pela pessoa que foi, colocando sempre a Cultura e o ensino em primeiro plano (...)
A nossa antiga Escola Secundária nº2 da Figueira da Foz, que primeiramente foi Liceu Nacional, denomina-se agora com toda a distinção "Joaquim de Carvalho" por acção fundamental do Dr. José Pires Lopes de Azevedo. Por ocasião do 1º Centenário do seu nascimento, a Câmara Municipal da Figueira da Foz fez erguer uma estátua, da autoria do escultor figueirense Prof. Gustavo Bastos, na rotunda das Abadias, próxima da Escola.
Foi também dado o seu nome à avenida que atravessa as Abadias, ligando as ruas Joaquim Sotto Maior e Fernandes Coelho".
via Figueira Olhar, com a devida vénia
terça-feira, 28 de outubro de 2008
LEMBRANÇA DO DOUTOR JOAQUIM DE CARVALHO
" ... Como quer que seja, a Figueira sentiu fundamente a morte de Joaquim de Carvalho; mesmo quem jamais o ouvira ou lera, simpatizava com o homem grande, quieto e bom que encontrava nos caminhos, na camioneta de Buarcos ou no combóio de Coimbra. E a expressão de tal pesar foi dita lapidarmente à beira do túmulo, pelo Dr. Álvaro Malafaia.
Também o mundo culto, dentro e fora do País sentiu a perda e se manifestou; melhor os de longe, naturalmente, que santos de ao pé da porta. ... E Coimbra?
Ora pois, a Coimbra doutora sentiu o facto mais diversamente: houve em alguns pesar sincero, sem dúvida, na consciência da relação perdida ou do perdido valor cultural; entretanto, no submundo universitário certa pequenina política de campanário porventura experimentou algum alívio nesse apagar de um Homem da estirpe moral e intelectual de Joaquim de Carvalho...
Seria filho dessa politicazinba o facto de, no então novo edifício das Letras já não haver um gabinete àquele mestre reservado? Terá algo a ver com a mesma política pequena o facto de a Universidade não haver suspenso as aulas no próprio dia do enterro de um dos seus catedráticos maiores?
Não sabemos responder às perguntas antes deixadas no ar. Em compensação, temos dados concretos para a resposta a esta outra questão: quando, a dez anos da morte de Joaquim de Carvalho, à Universidade de Coimbra, na pessoa de alguns dos seus mestres – e todos lhe deviam finezas; e não poucos lhe deviam o lugar –, o semanário figueirense Mar Alto, então um jornal limpo de quaisquer dependências, solicitou depoimentos sobre aquele grande Professor, quem respondeu à chamada?
Como quer que seja, muita água correu neste quarto de século; pelos vistos, a bastante para acalmar incêndios e ânimos, serenar quezílias e, até, fazer voltar a Coimbra e fazer mergulhar na dita Faculdade de Letras a livraria de Joaquim de Carvalho, que tão bem esteve ali na sua casa do Pinhal e tanta falta faz na Figueira, onde o filósofo mestre sonhava acabar seus dias, saboreando a existência, recebendo amigos e, sempre, trabalhando na obra de que apaixonadamente falava, ainda pouco tempo antes de morrer...
[José Pires Lopes de Azevedo, in "Lembrança do Doutor Joaquim de Carvalho", Figueira da Foz, 1987, p. 49-50]
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segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Doutor Joaquim de Carvalho 50 Anos Depois
Hoje, pelas 10 horas da manhã, a Escola Secundária C/3º CEB Dr. Joaquim de Carvalho, a Associação Joaquim de Carvalho, familiares, ex-alunos e muitos admiradores evocaram a saudosa memória do seu Patrono e Mestre, tendo o Dr. João Montezuma de Carvalho, filho de Joaquim de Carvalho, depositado uma coroa de flores junto à sua estatua.
Estiveram presentes nesta evocação solene do Doutor Joaquim de Carvalho diversas personalidades, entre as quais o Dr. João Montezuma de Carvalho, já referido, e professor da F.C.T.U.C.; o Dr. Pedrosa Veríssimo, seu ex-aluno e antigo Presidente da Câmara Municipal da Figueira da Foz; o Dr. Melo Biscaia, seu contemporâneo e confesso admirador; a Dra. Aurélia Figueiras; membros da Comissão Organizadora da Homenagem ao ilustre professor e filósofo; a direcção da Associação Joaquim de Carvalho; professores, alunos e funcionários da Escola. Na altura usaram da palavra, o sr. Presidente do Conselho Directivo, Dr. Carlos Monteiro, o Dr. João Montezuma de Carvalho e o Dr. Pedrosa Veríssimo.
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IN MEMORIAM do DOUTOR JOAQUIM DE CARVALHO
No dia 27 de Outubro de 1958, pelas 21.30h, na Clínica de Santa Isabel em Coimbra, pertença do seu filho dr. Manuel Montezuma de Carvalho, morre o doutor Joaquim de Carvalho.
"Meu querido pai, apenas quero dirigir-te a minha última oração de amor bem junto à tua derradeira e já etérea presença física, para que partas e saibas antes da despedida que levarei no meu sangue violado a tua estirpe e que afinal estás enganado: - a tua sepultura não é esta fria cama onde hoje singelamente te trazem a imensa ternura e o imenso respeito duma Nação (duma Nação? Não, querido pai, de todo o mundo culto, dos inúmeros amigos e admiradores teus que a esta hora te choram por terras ultramarinas, brasileiras, espanholas, francesas, italianas, argentinas, sei lá por onde mais o teu nome era bandeira ao vento da cultura, da justiça e da independência moral!).
Não, que a tua ultima morada não são as imutáveis arestas destas pedras, mas a humilde charneca do sangue igual da tua companheira, a nossa mãe. Aí o teu repouso e a tua permanente reaparição. Estaremos eternamente contigo porque não foste apenas o pensador, o escritor e o professor notabilíssimos, mas o pai santo, no seio da família, e o santo homem, no seio da comunidade. Dignificaste a palavra cristã. Honraste os valores humanos da generosidade e da tolerância. Tudo o mais que criavas era apenas eco da tua bondade e da tua natural inteligência sensível.
Jamais poderei deixar de te ver junto aos livros e debruçado sobre a vida, esse livro mestre de livros. Eras indomesticável ou só domesticável às causas supremas da redenção e da valorização do homem cá na terra. Os homens que tu mais amaste forma santos como tu, chamassem-se Spinoza ou Antero. Tu os recreaste através de ti porque nascera contigo o padrão de valores de outros valores. E o teu valor máximo era a humildade à maneira de Spinoza (nunca te seduziu a riqueza material), o coração generoso de Spinoza, o orgulho moral e liberal de santo Antero, e a certeza de que um homem serve a Pátria ao longo dos séculos e que só nessa perspectiva ainda mais apreciarão o teu trabalho. Não tinhas medo à história. E a historia, um dia, há-de julgar-te como um símbolo"
[Oração proferida por um dos seus filhos, no cemitério da Figueira da Foz, em 29 de Outubro de 1958, junto ao túmulo de Joaquim de Carvalho]
via Almocreve das Petas
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sexta-feira, 24 de outubro de 2008
BUSTO do Dr. JOAQUIM DE CARVALHO na F.L.U.C.
Foto da Sala Doutor Joaquim de Carvalho, no 2º Piso da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra (F.L.U.C.), onde está parte da valiosa Biblioteca que pertenceu ao Doutor Joaquim de Carvalho.
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REVISTA FILOSÓFICA – "POSIÇÃO" (II)
"Essencialmente problemática, a Filosofia, no sentido mais puro da palavra e do significado, é aspiração sem fim à verdade e de forma alguma pretensão dogmática de a possuir e de a utilizar como travesseiro em que conclusa e definitivamente possam sossegar as inquietudes da razão. Por isso, o que importa é o filosofar e não as conclusões de qualquer filosofia, e, consequentemente se dêem condições propícias à gestação do esforço viril e criador de pensar pensamentos sem outro intento que não seja a sua densidade problemática, a sua coerência lógica, a sua consistência científica, a sua potencialidade explicativa (...)
Por isso, sob certo ponto de vista, a mente do filosófo fita o eterno, ou, pelo menos, o que se não restringe a um lugar e a um tempo, e sob outro, está enleada à vida profunda, à índole nativa e à temporalidade cultural da grei a que pertence. Como contemplador do eterno, talha por si próprio a posição mais coerente ou adopta meditada e conscienciosamente uma das muitas que sempre se oferecem e nunca, como na nossa época, se ofereceram tantas e tão diversas orientações e soluções que dão ao mundo filosófico de hoje a configuração de um imenso arraial de vozes onde é impossível captar a melodia do acordo; e como mente situada em dado lugar e tempo, o filosofo, que não o ceifeiro de filosofemas espigados noutro solo, é a voz profunda onde ressoa a alma do povo, cuja linguagem dá expressão ao seu pensamento e cuja índole nativa dá alento à sua sensibilidade e maneira de ser.
Se ambicionamos, pois, que a Filosofia venha a vicejar entre nós, alentada pela nossa Índole, orientada para a reflexão teórica e crítica dos problemas suscitados pela nossa actividade científica e cultural, nutrida pela seiva do pensamento desinteressado e cientificamente disciplinado, aberto e amplo, sem estreiteza nem exclusivismo, e que o seu desenvolvimento se não confunda com a crescença de transplantações adventícias nem com o requinte metafórico de subtilizações enfatuadas, cumpre começar pela preparação do terreno. A empresa é árdua, exigente, não tolera pausa nem descanso, e o seu ponto de partida tem de ser a aproximação de todos os que, deveras, sentem responsabilidades intelectuais e pensam que a teorização científica e filosófica não é intrínseca e necessariamente ideário e doutrinal, mas acima de tudo problematização e reflexão criticamente fundada -, filosofia de problemas e não filosofia de mistérios, filosofia de integração e de perspectivas gerais, e não filosofia teleológica e de verticalismo hierarquizante ou de vértice limitativo.
É com este anelo e nesta ordem de ideias que se apresenta a Revista Filosófica. O seu escopo outro não é que o veemente desejo de contribuir para que os nossos cientistas, historiadores da Cultura, pedagogistas, estetas e filósofos, responsáveis por igual do pensamento desinteressado, por um lado, se reúnam para confrontarem opiniões com mútua compreensão e, por outro, se isolem, para mais intimamente se recolherem «à tranquila morada do pensar», e da consciência que se interioriza ou da razão que se enfrenta consigo mesma desferirem «o voo do mocho de Minerva», no sempre belo dizer de Regel. (...)
É este o seu guião, e oxalá venha a ser o seu destino".
Joaquim de Carvalho, in "Posição", REVISTA FILOSÓFICA. Publicação quadrimestral de estudos filosóficos e históricos-científicos dirigida por Joaquim de Carvalho, Atlântida, Coimbra, nº1, Março de 1951
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REVISTA FILOSÓFICA – "POSIÇÃO" (I)
O trânsito do século passado para o actual apresenta-se entre nós com evidentes feições de conformidade doutrinal.
Com raras excepções, o laboratório, a cátedra e a escrivaninha coincidiam geralmente num conjunto de tópicos fundamentais acerca da teoria do Saber, do sentido da História que o homem tece e destece e da concepção do Mundo. Todas as grandes afirmações intelectuais dessa quadra, os escritos de Teófilo Braga, de Gomes Teixeira, de Serrano, de Júlio de Matos, de Júlio Henriques, de Gama Barros, de Leite de Vasconcelos, de Adolfo Coelho, de Braamcamp Freire, etc., nasceram e amadureceram à luz quente do mesmo conceito de positividade e, com serem diversas no teor e no objecto, procuraram atingir o conhecimento das relações matemáticas, dos seres naturais, do acontecer histórico e das manifestações da psique humana com a mesma atitude metodológica e com o mesmo sentido doutrinal.
Adentrado o século em que vivemos, e cuja configuração intelectual começou a definir-se após a convulsão da primeira guerra mundial, à conformidade seguiu-se o desacordo. Nenhuma outra síntese filosófica ou teoria da Ciência logrou a aceitação, que o Positivismo e o Evolucionismo haviam alcançado, e daí a situação actual em que o saber e o filosofar se confinam como que em mundos indiferentes de curvatura cerrada, sem janelas nem miradoiros (...)
A situação cultural que vivemos não é, porém, superável pela ressurreição ou pela importação de qualquer sistematização doutrinal, a qual poderia apresentar-se com justificação política, mas nunca seria uma solução à altura dos tempos e das responsabilidades de um Povo que deve reconhecer-se livre e digno na ordem do pensamento como se reconhece livre e digno na ordem da sensibilidade e da acção.
Jamais povo algum conquistou a sua personalidade espiritual confinando-se dentro de muralhas, nem robusteceu a sua vitalidade com a assepsia de todos os alimentos; mas também povo algum afirmou a sua capacidade intelectual importando o pensar alheio, nem progrediu com o estímulo frígido do cosmopolitismo. A constituição da nossa cultura filosófica, como traço de conexão da nossa mentalidade e dos nossos problemas com o pensamento universal e com as concepções acrónicas e atemporais, que tecem a História da Filosofia, tem de arrancar do nosso substrato e de se exprimir com a fala com que nos entendemos. Com vacilação ou com ânimo resoluto, temos de partir de nós mesmos, e bem firmes nos problemas e anelos da nossa consciência intelectual, empreender a custosa tarefa de os esclarecer racionalmente, com o alento da nossa maneira de ser e de olhos fitos no conhecimento científico e respectivas pressuposições e implicações (...)
[CONTINUA]
Joaquim de Carvalho, in "Posição", REVISTA FILOSÓFICA. Publicação quadrimestral de estudos filosóficos e históricos-científicos dirigida por Joaquim de Carvalho, Atlântida, Coimbra, nº1, Março de 1951
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In Memoriam Joaquim de Carvalho
"Apesar de contestada [a filosofia portuguesa] por uns, indiferente à maior parte, mas aproveitada por estranhos, pensámos sempre que o Génio Nacional, como unidade viva e livre, se deveria reflectir na Filosofia.
Com efeito, se uma nacionalidade é em si um produto espiritual, para nós mais representativo do que a comunidade de interesses, sentimentos, tradições, língua, caracteres étnicos, autonomia do poder politico, etc, com que ordinariamente é definida, se, por outro lado, a filosofia não é estéril e vão exercício da inteligência, mas uma exigência imperiosa do espírito, o que impede teoricamente que um povo livre, na plenitude da sua autonomia, se afirme e reconheça, independentemente doutras manifestações, na Filosofia?..."
"Se sobre todas as coisas reina a dignidade da consciência humana; qualquer ideário político, qualquer arquitectura do Estado que a esqueça, esmague ou remova para o fundo do cenário, é intrinsecamente falsa e moralmente pecaminosa ..."
"Quando um país tem a dita de possuir uma oligarquia de políticos, claros nos propósitos, seleccionados e confirmados pelo voto de opinião, honrados com o adversário quando lhe chega a hora de governar, o povo vive subtraído às oscilações extremistas das leis do pêndulo e podem chover estrelas ou picaretas que não se abalará a paz interna.
Se esta meia-dúzia de homens se desentender, se se deixar atrair pela sereia do mando, tapando os ouvidos à frágil voz do Servir, na bigorna da politica soa o timbre das espadas, com as quais, como advertiu Talleyrand, se podem fazer muitas coisas, salvo sentar-se alguém nas pontas.
Sempre assim foi e será, assim como, pelo contrário, sempre foi e será o diálogo claro e publico entre os dirigentes políticos o bastião inabalável da paz civil. Governe a direita, governe a esquerda, o essencial é que, no círculo dos oligarcas, quem governa saiba demitir-se, e quem quer o poder saiba esperar"
[Joaquim de Carvalho, in Diário Liberal (1933 e 1938), citado por Cruz Malpique, in Perfil intelectual e moral do prof. Joaquim de Carvalho, 1959]
[In Memoriam de Joaquim de Carvalho - via Almocreve das Petas]
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quarta-feira, 22 de outubro de 2008
JOÃO DE BARROS – por JOAQUIM DE CARVALHO (II)
"Primeiro; a admiração íntima e sincera da natureza, a gravidade silenciosa da serrania e sobretudo a alacridade da luz e da côr, cujas tonalidades e cambiantes impregnam as formosas Aguarelas da Beira, talvez a sua melhor obra literária; depois, a admiração compreensiva e meditada dos criadores de Beleza.
O presente estudo brotou desta admiração, isto é, da vibração, a um tempo estética e educativa , de uma obra, cuja inspiração universalista e humana não tem par na actual literatura portuguesa; se o sentimento da natureza o conduzira à interioridade, velando-a de tristeza, a admiração das criações estéticas ensinou-lhe que o mundo da Beleza duradoira não é fácil e não tolera as torpezas da simulação e do disfarce. João de Barros, em cuja inspiração vitalista e universalidade dos temas poéticos um crítico subtil talvez possa rastrear alguns vestígios do nosso ambiente local, especialmente do mar, foi para o autor o mago que lhe revelou o mundo da Beleza e um mestre de sinceridade. Do seu reconhecimento brotou êste estudo, no qual cingindo-se predominantemente às investigaç6es bio-bibliográficas, conduzidas com esmêro e sagacidade, nos dá o elenco minucioso da actividade literária de João de Barros, que todos os admiradores do Poeta acolherão com reconhecimento. O seu estudo, porém, é preliminar; urge completá-lo com a visão interna da obra do Poeta, do Crítico e do Pedagogo, na sua expressão estética e na sua ressonância emotiva e vital.
Como figueirenses, rendamos graças ao autor e incitemo-lo a que não deixe passar a mãos forasteiras a pena que há de escrever novas páginas sôbre o maior criador de Beleza que a nossa terra viu nascer!
Figueira da Foz"
Joaquim de Carvalho, in prefácio "João Barros Ensaio Literário e Bibliográfico", de Carlos Sombrio, Tipografia Popular, Figueira da Foz, 1936, p. 4 - sublinhados, nossos
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JOÃO DE BARROS – por JOAQUIM DE CARVALHO (I)
"Já lá vão quarenta anos que o autor dêste estudo e o seu prefaciador de hoje traquinavam pela Praça Vélha, onde os nossos Pais labutavam pelo pão de cada dia e, podendo ser, pelo do dia seguinte; nessa quadra distante aprendemos ambos juntamente a utilizar as pernas e a desentaramelar a língua, socorrendo-nos mutuamente com tão constante ajuda que jamais se me apagou da memória a recordação das primeiras travessuras e das incipientes tagarelices.
Depois veio o apartamento, primeiro pela mudança de meus Pais para o Pinhal, após pela minha escolaridade, desenvolvida no colégio e em Coimbra. A separação de lugares interrompeu naturalmente o convívio da meninice, decorrendo mesmo muitos anos sem que nos víssemos e trocássemos palavra. Tão longo silêncio não extinguira a chama da amizade; latente e reprêsa, aguardava apenas a aragem propícia que a espevitasse e reacendesse. O ensejo ocorreu em 1925, com a comemoração do centenário de Camilo na Figueira; o notável empreendimento, a que o espírito e o prestígio do dr. José Calado deram vida e êxito, dissipou o véu que nos encobria, e, aproximando-nos de novo, revelou-me ao mesmo temto qualidades insuspeitadas do meu companheiro de infância.
Surpreendeu-me, com efeito, a viveza dos seus interêsses literários, e logo me cativou a seriedade com que êste autodidacta, sem formação escolar e sem os ócios que a fortuna proporciona, lograra educar-se, pondo ao serviço dos interesses morais da nossa terra as horas do seu descanso e o melhor do seu espírito. Daquela comemoração camiliana foi o cronista probo, escrevendo um opúsculo, em cuja modéstia se recatavam possibilidades de vôos mais altos e se adivinhava uma pujante ambição literária, que o autodidactismo tanto podia conduzir à futilidade atrevida e insignificante, como ao trabalho sério e consciencioso. Á mercê de um naufrágio intelectual, tão freqüente nos nossos pequenos meios provincianos, salvou-o o sentimento da admiração, sem o qual a vida interior se consome em efémeras cintilações".
[CONTINUA]
Joaquim de Carvalho, in prefácio "João Barros Ensaio Literário e Bibliográfico", de Carlos Sombrio, Tipografia Popular, Figueira da Foz, 1936, p. 3 - sublinhados, nossos
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terça-feira, 21 de outubro de 2008

JOAQUIM DE CARVALHO E O PATRIOTISMO
"A grande maioria dos portugueses vive o amor pátrio como dado intuitivo e imediato, identificando-o normalmente com o amor à terra em que nasceram e onde lhes decorreu a primeira educação. Assim considerado, este amor pátrio gera um patriotismo localista e constitutivamente emotivo. O seu horizonte físico mal vai além da aldeia ou da vila natal e o seu horizonte moral é definido pela constelação de sentimentos que tem por centro a casa familiar. Constitui a forma mais simples, tenaz e generalizada, da fenomenologia do nosso sentimento patriótico, sendo suas notas características a visão estática e a saudade, por assim dizer vital.
Se não erro, é o amor pátrio assim entendido, ou melhor assim sentido, que explica em grande parte a constituição da nossa vida civil com base no agregado familiar, o desinteresse pela vida pública como actividade de primeiro plano, e a instabilidade de todas as organizações de significação estritamente política".
[Joaquim de Carvalho, extracto de "Compleição do Patriotismo Português", discurso proferido no Rio de Janeiro, em 10 de Junho de 1953 - via Álbum Figueirense]
"O Dr. Joaquim de Carvalho era uma pessoa admirável. Grande conversador e duma simplicidade que só os homens superiores conseguem manter. Era um trabalhador incansável. Levantava-se de madrugada e trabalhava nos escritos da sua grande obra literária até às 9 horas. Depois saía e aparecia na cidade para conversar um pouco. Fazia depois a sua sesta no fim do almoço e deitava-se à noite muito cedo.
(...) Era uma força moral e espiritual excepcional e insubstituível".
[in Memórias de Manuel Gaspar de Barros - via Álbum Figueirense]
"A grande maioria dos portugueses vive o amor pátrio como dado intuitivo e imediato, identificando-o normalmente com o amor à terra em que nasceram e onde lhes decorreu a primeira educação. Assim considerado, este amor pátrio gera um patriotismo localista e constitutivamente emotivo. O seu horizonte físico mal vai além da aldeia ou da vila natal e o seu horizonte moral é definido pela constelação de sentimentos que tem por centro a casa familiar. Constitui a forma mais simples, tenaz e generalizada, da fenomenologia do nosso sentimento patriótico, sendo suas notas características a visão estática e a saudade, por assim dizer vital.
Se não erro, é o amor pátrio assim entendido, ou melhor assim sentido, que explica em grande parte a constituição da nossa vida civil com base no agregado familiar, o desinteresse pela vida pública como actividade de primeiro plano, e a instabilidade de todas as organizações de significação estritamente política".
[Joaquim de Carvalho, extracto de "Compleição do Patriotismo Português", discurso proferido no Rio de Janeiro, em 10 de Junho de 1953 - via Álbum Figueirense]
"O Dr. Joaquim de Carvalho era uma pessoa admirável. Grande conversador e duma simplicidade que só os homens superiores conseguem manter. Era um trabalhador incansável. Levantava-se de madrugada e trabalhava nos escritos da sua grande obra literária até às 9 horas. Depois saía e aparecia na cidade para conversar um pouco. Fazia depois a sua sesta no fim do almoço e deitava-se à noite muito cedo.
(...) Era uma força moral e espiritual excepcional e insubstituível".
[in Memórias de Manuel Gaspar de Barros - via Álbum Figueirense]
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sexta-feira, 17 de outubro de 2008
Programa em Homenagem ao Doutor Joaquim de Carvalho (1892-1958)
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Programa
"(Re)Visões de presenças e percursos de Joaquim de Carvalho" - CONCURSO
O concurso "(Re) Visões de presenças e percursos de Joaquim de Carvalho" é uma iniciativa da Associação Dr. Joaquim de Carvalho no âmbito das comemorações do cinquentenário da morte de Joaquim de Carvalho". Vidé o seu REGULAMENTO - Clicar na foto para aumentar.
Podem participar todos os alunos do Curso Científico Humanístico de Artes Visuais da Escola Secundária Dr. Joaquim de Carvalho. As técnicas a utilizar são livres e os trabalhos individuais ou colectivos deverão ser apresentados em tela no formato máximo de 1mX1m. Os trabalhos terão que ser assinados com o pseudónimo. Cada trabalho deve ser inédito, enquadrar-se no tema do concurso.
Os trabalhos deverão ser entregues até dia 10 de Novembro.
CONSULTAR O REGULAMENTO.
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Concurso
História da Filosofia
"... Examinando os estudos de Joaquim de Carvalho sobre a História da Filosofa do Ocidente e, em especial, o seu projecto de construir uma História da Filosofia Portuguesa procuramos apresentar o seu pensamento por partes, em capítulos. O primeiro foi dedicado a clarear o conceito de Filosofia de Joaquim de Carvalho, o segundo expressa suas considerações teóricas e metodológicas sobre a Historia da Filosofia. A partir do terceiro, entramos na história da filosofia europeia, em geral, e, em especial, na portuguesa; o terceiro capítulo foi dedicado à primeira de história da filosofia completa da Grécia que foi elaborada por Aristóteles. O quarto enfocou a renascença portuguesa; o quinto, o ideal da ciência moderna; o sexto, Francisco Sanches e o problema da experiência; o sétimo, a solução racionalista de Descartes e a influência desse sistema em Portugal; o oitavo, John Locke e o seu estudo da origem e limites do conhecimento; o nono, Spinoza, que Joaquim de Carvalho toma como referência da filosofia portuguesa; o décimo, Leibnitz e a influência que ele exerceu em Portugal; o décimo primeiro, Antero de Quental e a maturidade da consciência portuguesa; o décimo segundo, Teófilo Braga; o décimo terceiro, Teixeira de Pascoaes e o problema da saudade; o décimo quarto, os problemas da filosofia política; o décimo quinto, o exame das tradições culturais na América Latina; o décimo sexto, as tradições nacionais na América Latina; e o último, o debate contemporâneo sobre as filosofias nacionais e as tradições culturais ..."
in História da filosofia e tradições culturais: um diálogo com Joaquim de Carvalho, de José Maurício de Carvalho,EDIPUCRS, Colecção Filosofia, 127 [leitura parcial, aqui]
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José Maurício de Carvalho
quinta-feira, 16 de outubro de 2008
JOAQUIM DE CARVALHO
"Joaquim de Carvalho representa na cultura portuguesa contemporânea uma das primeiras figuras do século XX a optar pela especialização universitária enquanto modo de intervenção no espaço público. Apesar de a maior parte do seu trabalho, e da sua vida, ter decorrido na primeira metade do século, a sua Obra é bem representativa de uma transição crucial ocorrida em meados do século, sobretudo entre meados dos anos 1940 e meados da década de 1960, a especialização do discurso crítico que, no seu caso, foi feita pela história da filosofia (...)
... tem início o período de maior actividade de Joaquim de Carvalho na Imprensa, quer a nível editorial quer como colaborador de revistas influentes. Entre estas, destaque para a Seara Nova, com a qual colaborou embora não seja possível qualificá-lo como ‘seareiro’, tendo sido particularmente activo na década entre 1926 e 1936. Esta actividade pública trouxe-lhe vários dissabores, quer com os mais novos (por exemplo numa polémica no final da década de 1920 com José Régio, a respeito do carácter da revista presença, que Joaquim de Carvalho descreveu como sendo destrutivo) quer com o regime instalado em 1926. Com efeito, na sua concepção de democracia, esta era inseparável de liberalismo (o que lhe foi contestado por alguns autores relevantes, como Domingos Monteiro) e a sua defesa destes ideais, bem como a sua ligação à Maçonaria, não deixaram de ser penalizados pelo Estado Novo.
Como já referimos, a sua actividade pública teve também como palco de grande notoriedade a administração da Imprensa da Universidade de Coimbra entre 1921 e 1935. Esta actividade só cessou por ordem directa do governo, isto é, de Oliveira Salazar, seu colega de cátedra coimbrã, quando, no mesmo ano em que fez a primeira grande perseguição aos universitários e outros professores não alinhados com o regime, ordenou o encerramento da editora cuja actividade era reconhecida inclusivamente por aqueles que se encontravam nos antípodas políticos de Joaquim de Carvalho (Alfredo Pimenta escreveu-o então). À frente da editora apoiou (encomendando traduções) António Sérgio no exílio deste em Paris, publicou jovens autores como Adolfo Casais Monteiro (Considerações Pessoais, 1933) e exercera sempre a sua actividade com a mesma independência que reclamava para a sua Universidade.
Essa purga, que afastou entre muitos outros um dos seus assistentes (Sílvio Lima), marcou um momento de viragem na sua actividade, no sentido de maior isolamento e fechamento no trabalho intelectual. Sem que isso, contudo, o fizesse deixar de se referir a Salazar nos termos mais críticos, que estendia ao apoio que a Igreja dava ao Estado Novo, 'ressentido e frustrado' seminarista que nunca deixou de o ser, 'chefe do nacional-seminarismo'. Mas o mal estava feito e apesar de, coisa incomum em Portugal, imediatamente se ter feito sentir a solidariedade de todos, o panorama não se alteraria até à sua morte. Registe-se no entanto o volume de homenagem, a si e a Hernâni Cidade e Azevedo Gomes, publicado em 1935, com textos de, entre outros, Rodrigues Lapa, Flausino Torres e Vitorino Nemésio (v. referências). Depois disso, mesmo dinamizando publicações universitárias de Filosofia, Joaquim de Carvalho não voltou a ter a preponderância pública que tivera até finais da década de 1930 (...)" [ler tudo, aqui]
[Carlos Leone, in Figuras da Cultura Portuguesa (Instituto Camões) Joaquim de Carvalho - sublinhados nossos]
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Joaquim de Carvalho
PROF. DOUTOR JOAQUIM DE CARVALHO
"Decorreu-me a escolaridade entre duas tendências: uma, impulsiva, que me arrastou ao mais ardente jacobismo, outra contemplativa, pela qual me isolava no meu quarto, trabalhando delirantemente. Venceu, afinal, esta última, não sei se por mais forte, se pelas laboriosas desilusões da realidade, embora aquela se não apagasse ainda."
Palavras de Joaquim de Carvalho, em 1919 - ler mais, aqui.
[via Presente, de Aníbal Matos, com a devida vénia]
CORPO DOCENTE DA F.L.U.C. em 1933
"Corpo Docente (parte dele ...) e Finalistas da FL/UC em 1933:
1.ª fila, da esq. para a dir.: Doutor Manuel Lopes de Almeida (1900-1980), Doutor Sílvio Vieira Mendes de Lima (1904-1993), Doutor Joaquim de Carvalho (1892-1958), Doutor Eugénio de Castro e Almeida (1869-1944), Doutor Ferrand Pimentel de Almeida (1885-1962), Doutor João da Providência de Sousa Costa (1893-1965) e Doutor Vergílio Correia (1888-1944).
Fonte: RODRIGUES, Manuel Augusto [Dir.] in Memoria Professorvm Vniversitatis Conimbrigensis: 1772-1937, Coimbra, Arquivo da Universidade, 1992, p. 355."
[via, Guitarra de Coimbra, com a devida vénia]
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Joaquim de Carvalho
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