quarta-feira, 19 de novembro de 2008


JOAQUIM DE CARVALHO. O filósofo, o historiador e a ciência

"Joaquim de Carvalho foi um dos maiores historiadores da Cultura Portuguesa, Filósofo, Professor e Homem Bom."

Foi assim que Barahona Fernandes iniciou uma conferência proferida na Academia das Ciências de Lisboa, em 30 de Novembro de 1961, em memória de Joaquim de Carvalho. É também em sua memória que hoje dele falamos. Faz este mês cinquenta anos que Joaquim de Carvalho nos deixou, não sem antes nos legar uma obra notável que podemos, talvez, situar no âmbito da historiografia cultural.

"Julgo – e isso escrevi – que o que deve singularizar a nossa situação é da conexão do espírito científico com o filosófico, quebrando a tradicional distância que os separa, quando não recíproca exclusão."

Joaquim de Carvalho sintetiza, neste pequeno parágrafo de uma carta que escreveu também à Academia de Ciências de Lisboa (datada de 15 de Setembro de 1951) o seu projecto intelectual que escrupulosamente cumpriu: o da "integração filosófica do saber". Por outras palavras, porque este desígnio/atitude é a marca mais assinalada do seu labor, o de combater a especulação vazia qualquer visão unilateral ou dogmática. Com efeito, Joaquim de Carvalho foi um filósofo e historiador que cultivou um saber assente num conhecimento profundo da ciência, o que lhe permitiu imprimir às suas investigações uma base concreta, racional e reflexiva, num interpenetração de saberes não muito frequente.

Assim, a sua mundividência resulta sempre de uma investigação positiva à qual associa uma atitude problematizadora face ao seu objecto de estudo, ou seja, a cosmovisão que nos apresenta é a uma vez concretizante, analítico-sistemática e reflexiva. É a perspectiva de um homem teorético e não a de um erudito, apesar de o ter sido também. Os seus trabalhos são ainda a expressão de um amante das grandes ideias que sabe reconhecer a força que elas têm de impregnarem a vida e de a transformarem.

Os seus estudos sobre a Filosofia Portuguesa evidenciam de que modo Joaquim de Carvalho considerou como o "mais representativo" da nacionalidade, mais do que a "comunidade de interesses e sentimentos". Por outro lado, foi também seu objectivo contribuir para a explicitação do "material histórico" português numa demanda árdua do seu sentido lógicoexistencial, através da identificação das leis que corresponderiam às relações objectivas dos acontecimentos.

Enfim, Joaquim de Carvalho encarou a sua pesquisa filosófica como "uma escalada de dificuldades que a razão põe a si mesma" e como "expressão profunda da cultura humana, especialmente instável, e sempre em crise". E termino, citando novamente Barahona Fernandes:

"Joaquim de Carvalho foi, assim, um filósofo que se pode dizer - sadio e construtivo - logrando harmonizar a sua posição doutrinal com a própria personalidade – trabalhar sem parança, com optimismo e confiança no saber..."

A homenagem que cinquenta anos depois lhe prestamos por estas e muitas outras razões lhe é devida. É uma questão, também, de gratidão”

Cândida Ferreira, in revista Sinal, Outubro de 2008

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